“Então Miriã, a profetisa, a irmã de
Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com
tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque
gloriosamente triunfou, e lançou no mar o cavalo com os seus cavaleiros” (Êxodo 15.20).
Esta é a continuação do cântico de
Moisés que se encontra no inicio do capítulo 15 do livro de Êxodo. Miriã
incentiva as mulheres a cantarem o que Moisés cantou “... o Senhor
gloriosamente triunfou...” O triunfo não é de outro, senão do Senhor e
os inimigos não são outros, senão os egípcios que os escravizaram por um longo
período. Já havia passado 430 anos desde que Jacó entrara no Egito com seus 11
filhos e suas respectivas famílias, mas agora sua descendência transformou-se
num numeroso povo. Deus os livrou das mãos de Faraó e de seu exército abrindo o
mar para que pudessem atravessar. Do outro lado com a vitória nas mãos, Miriã e
as mulheres cantaram e dançaram. Porém, apenas três dias depois dessa
manifestação de alegria, o povo já estava reclamando com Moisés por não haver
água (Êxodo 15.24).
Eles poderiam orar e buscar a face do
Senhor, mas não o fizeram. Será que haviam se esquecido de que Deus os havia
feito passar pelo meio do mar? E as palavras que disseram anteriormente a
respeito de Deus, não eram sinceras? Acredito que suas palavras eram sinceras
no momento em que as cantavam, mas não profundas. Isso significa que a opinião
a respeito de Deus era sincera, porém momentânea e baseada nas circunstâncias.
É o que acontece com muitas pessoas, Deus é digno de ser louvado quando
lhes satisfaz. Porém, já não parece tão “digno” de receber louvor, quando não
responde às suas expectativas.
Louvar a Deus é expressar publicamente os bons pensamentos que temos sobre Ele, por meio de uma música ou de “boas” palavras. É como quando elogiamos alguém publicamente. Sabemos que muitas pessoas elogiam políticos em época de eleição e depois de certo tempo, dizem que se enganaram a respeito dos mesmos. Sabemos também que são muitos os motivos que levam as pessoas a fazerem elogios. Nem sempre os elogios são sinceros, nesse caso podemos até dizer que não são verdadeiramente elogios.
Da mesma maneira podemos dizer que muitas pessoas “louvam” a Deus, mas não de forma legítima, por que suas palavras não expressam os seus pensamentos ou a sua vontade a respeito de Deus. As pessoas nem sempre pretendem viver de acordo com o que dizem ou cantam. Não é difícil observar isso, basta olhar para o momento em que estamos vivendo, o “mercado gospel” tem crescido assustadoramente e isso não é necessariamente bom, pois é cada vez mais raro encontrar autores e intérpretes de músicas genuinamente cristãs, ou seja, músicas inspiradas nas Escrituras Sagradas, que testificam do amor de Deus e seu plano para a humanidade, que dão a Deus a glória devida ao seu nome.
O que vemos hoje é uma gama de
“artistas da fé” produzindo o que o povo quer ouvir. E o que é que o povo quer
ouvir? O povo quer ouvir sobre o Deus vai fazer e não sobre quem Deus é, o que
Deus dá e não o que Deus requer de cada um de nós (santidade, por exemplo). As
pessoas ainda querem que Deus abra o mar, mas como o povo no deserto, elas
esperam que o mar se abra para que elas possam, do outro lado, desfrutar dos
benefícios de Deus, não para desfrutar da presença de Deus. Por isso, canta-se
muito em momentos de empolgação, mas quando a empolgação se vai, Deus já não
parece merecer louvor nenhum.
Havia uma diferença entre a maioria
daquelas pessoas, e Moisés. O povo louvava, mas Moisés adorava. Quem louva nem
sempre é um adorador, mas o adorador é inevitavelmente alguém que louva. “E Moisés apressou-se, e inclinou a cabeça à terra,
adorou, E disse: Senhor, se
agora tenho achado graça aos teus olhos, vá agora o Senhor no meio de nós;
porque este é povo de dura cerviz; porém perdoa a nossa iniquidade e o nosso
pecado, e toma-nos por tua herança. Então disse: Eis que eu faço
uma aliança; farei diante de todo o teu povo maravilhas que nunca foram feitas
em toda a terra, nem em nação alguma; de maneira que todo este povo, em cujo
meio tu estás, veja a obra do Senhor; porque coisa terrível é o que faço
contigo” (ÊXODO 34.8 -10).
Adorar a Deus é algo que acontece no
interior da pessoa e que se torna parte dela, por isso costumamos dizer que
adorar é um estilo de vida. Um adorador não é simplesmente alguém que
eventualmente se lembra de Deus, ou alguém que decide em momento “oportuno”
ser-lhe devoto. É alguém que vive por Deus e para Deus, alguém que não apenas
sabe que Ele existe, mas tem certeza de sua presença constante, mesmo nos
momentos mais sombrios. Alguém que compartilha com Deus, seus sonhos, desejos,
planos, mas também seus temores e angústias. O adorador não é perfeito, tal
como Moisés não era, mas é sincero consigo mesmo e com Deus, é o que podemos
ver no salmo que escreveu:
“SENHOR,
tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes
que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de
eternidade a eternidade, tu és Deus. Tu reduzes o homem à
destruição; e dizes: Tornai-vos, filhos dos homens. Porque
mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da
noite. Tu os levas como uma corrente de água; são como um
sono; de manhã são como a erva que cresce. De madrugada
floresce e cresce; à tarde corta-se e seca. Pois somos
consumidos pela tua ira, e pelo teu furor somos angustiados. Diante
de ti puseste as nossas iniquidades, os nossos pecados ocultos, à luz do teu
rosto. Pois todos os nossos dias vão passando na tua
indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta. Os
dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez,
chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta
e vamos voando. Quem conhece o poder da tua ira? Segundo
és tremendo, assim é o teu furor. Ensina-nos a contar os
nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios. Volta-te
para nós, Senhor; até quando? Aplaca-te para com os teus servos. Farta-nos
de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos
todos os nossos dias. Alegra-nos pelos dias em que nos
afligiste, e pelos anos em que vimos o mal. Apareça a tua
obra aos teus servos, e a tua glória sobre seus filhos. E
seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra
das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Salmos 90).
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