domingo, 29 de junho de 2014

O que eu canto e o que eu penso sobre Deus - Cidinha Britto



“Então Miriã, a profetisa, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou, e lançou no mar o cavalo com os seus cavaleiros” (Êxodo 15.20).

Esta é a continuação do cântico de Moisés que se encontra no inicio do capítulo 15 do livro de Êxodo. Miriã incentiva as mulheres a cantarem o que Moisés cantou “... o Senhor gloriosamente triunfou...” O triunfo não é de outro, senão do Senhor e os inimigos não são outros, senão os egípcios que os escravizaram por um longo período. Já havia passado 430 anos desde que Jacó entrara no Egito com seus 11 filhos e suas respectivas famílias, mas agora sua descendência transformou-se num numeroso povo. Deus os livrou das mãos de Faraó e de seu exército abrindo o mar para que pudessem atravessar. Do outro lado com a vitória nas mãos, Miriã e as mulheres cantaram e dançaram. Porém, apenas três dias depois dessa manifestação de alegria, o povo já estava reclamando com Moisés por não haver água (Êxodo 15.24).

Eles poderiam orar e buscar a face do Senhor, mas não o fizeram. Será que haviam se esquecido de que Deus os havia feito passar pelo meio do mar? E as palavras que disseram anteriormente a respeito de Deus, não eram sinceras? Acredito que suas palavras eram sinceras no momento em que as cantavam, mas não profundas. Isso significa que a opinião a respeito de Deus era sincera, porém momentânea e baseada nas circunstâncias.  É o que acontece com muitas pessoas, Deus é digno de ser louvado quando lhes satisfaz. Porém, já não parece tão “digno” de receber louvor, quando não responde às suas expectativas.

Louvar a Deus é expressar publicamente os bons pensamentos que temos sobre Ele, por meio de uma música ou de “boas” palavras. É como quando elogiamos alguém publicamente. Sabemos que muitas pessoas elogiam políticos em época de eleição e depois de certo tempo, dizem que se enganaram a respeito dos mesmos. Sabemos também que são muitos os motivos que levam as pessoas a fazerem elogios. Nem sempre os elogios são sinceros, nesse caso podemos até dizer que não são verdadeiramente elogios.

Da mesma maneira podemos dizer que muitas pessoas “louvam” a Deus, mas não de forma legítima, por que suas palavras não expressam os seus pensamentos ou a sua vontade a respeito de Deus. As pessoas nem sempre pretendem viver de acordo com o que dizem ou cantam. Não é difícil observar isso, basta olhar para o momento em que estamos vivendo, o “mercado gospel” tem crescido assustadoramente e isso não é necessariamente bom, pois é cada vez mais raro encontrar autores e intérpretes de músicas genuinamente cristãs, ou seja, músicas inspiradas nas Escrituras Sagradas, que testificam do amor de Deus e seu plano para a humanidade, que dão a Deus a glória devida ao seu nome.


O que vemos hoje é uma gama de “artistas da fé” produzindo o que o povo quer ouvir. E o que é que o povo quer ouvir? O povo quer ouvir sobre o Deus vai fazer e não sobre quem Deus é, o que Deus dá e não o que Deus requer de cada um de nós (santidade, por exemplo). As pessoas ainda querem que Deus abra o mar, mas como o povo no deserto, elas esperam que o mar se abra para que elas possam, do outro lado, desfrutar dos benefícios de Deus, não para desfrutar da presença de Deus. Por isso, canta-se muito em momentos de empolgação, mas quando a empolgação se vai, Deus já não parece merecer louvor nenhum.

Havia uma diferença entre a maioria daquelas pessoas, e Moisés. O povo louvava, mas Moisés adorava. Quem louva nem sempre é um adorador, mas o adorador é inevitavelmente alguém que louva. “E Moisés apressou-se, e inclinou a cabeça à terra, adorou, E disse: Senhor, se agora tenho achado graça aos teus olhos, vá agora o Senhor no meio de nós; porque este é povo de dura cerviz; porém perdoa a nossa iniquidade e o nosso pecado, e toma-nos por tua herança. Então disse: Eis que eu faço uma aliança; farei diante de todo o teu povo maravilhas que nunca foram feitas em toda a terra, nem em nação alguma; de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do Senhor; porque coisa terrível é o que faço contigo” (ÊXODO 34.8 -10).

Adorar a Deus é algo que acontece no interior da pessoa e que se torna parte dela, por isso costumamos dizer que adorar é um estilo de vida. Um adorador não é simplesmente alguém que eventualmente se lembra de Deus, ou alguém que decide em momento “oportuno” ser-lhe devoto. É alguém que vive por Deus e para Deus, alguém que não apenas sabe que Ele existe, mas tem certeza de sua presença constante, mesmo nos momentos mais sombrios. Alguém que compartilha com Deus, seus sonhos, desejos, planos, mas também seus temores e angústias. O adorador não é perfeito, tal como Moisés não era, mas é sincero consigo mesmo e com Deus, é o que podemos ver no salmo que escreveu:

“SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração. Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu és Deus. Tu reduzes o homem à destruição; e dizes: Tornai-vos, filhos dos homens. Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite. Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce. De madrugada floresce e cresce; à tarde corta-se e seca. Pois somos consumidos pela tua ira, e pelo teu furor somos angustiados. Diante de ti puseste as nossas iniquidades, os nossos pecados ocultos, à luz do teu rosto. Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos anos como um conto que se conta. Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez, chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e vamos voando. Quem conhece o poder da tua ira? Segundo és tremendo, assim é o teu furor. Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios. Volta-te para nós, Senhor; até quando? Aplaca-te para com os teus servos. Farta-nos de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos todos os nossos dias. Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal. Apareça a tua obra aos teus servos, e a tua glória sobre seus filhos. E seja sobre nós a formosura do Senhor nosso Deus, e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos” (Salmos 90).



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