Ao completar 13
anos, o jovem judeu atinge a maioridade religiosa. Para marcar esta passagem, é
celebrado o Bar-Mitzvah, uma cerimônia que ressalta a importância de cada um
dos judeus na corrente ancestral do judaísmo. É nessa data que o jovem, pela
primeira vez, coloca os Tefilin e é chamado para ler na Torá.
O judaísmo
considera o jovem de 13 anos maduro o suficiente para ser responsável por seus
atos. Na Torá, Livro de Gênesis, há um verso que indica que é a partir desta
idade que um menino se torna homem. Referindo-se a dois filhos do patriarca
Jacó, Shimon e Levi, narra o texto da Torá: "Cada um dos homens pegou sua
espada...". Na época em que ocorreu esse episódio, Levi tinha 13 anos de
idade. Ele foi a pessoa mais jovem a quem a Torá se referiu como "homem",
revelando assim que aos treze anos é a idade em que um judeu assume a
maioridade religiosa. De acordo com o Talmud, um menino torna-se adulto com 13
anos e 1 dia, independentemente do fato de ter ou não atingido a puberdade.
Como as meninas amadurecem mais cedo, o Bat-Mitzvah, celebração de sua
maioridade religiosa, é comemorado aos 12 anos.
O Código de Lei
Judaica ensina que, a partir dessa data, os jovens passam a ser totalmente
responsáveis pelo cumprimento dos Mandamentos Divinos, as mitzvot, não mais os
cumprindo apenas porque assim seus pais lhe ensinaram. Seu pai, portanto, deixa
de ser responsável pelos seus atos, como está prescrito no Shulchan Aruch
HaRav.
Em hebraico,
Bar-Mitzvah e Bat-Mitzvah, significam literalmente "filho ou filha do mandamento".
A própria palavra revela a importância espiritual da data, quando a ligação de
um jovem com o judaísmo se torna imutável. O judeu, em sua essência, é filho da
Mitzvah, ou seja, da Palavra e Vontade Divina transmitidas a nosso povo por Deus.
Foi naquele momento, ao pé do Monte Sinai, que a ligação espiritual entre o
Deus e o povo de Israel se tornou eterna. Façamos aqui um paralelo com a
relação entre filho e pai. O filho pode até se afastar de seu pai, mas ele
sempre continuará a ser seu filho. Da mesma forma, um judeu, ao longo de sua
vida, ainda que se afaste de suas raízes, o vínculo de sua alma com Deus e com
o judaísmo é eterno.
Ensina a Cabalá que
no dia de seu Bar ou Bat-Mitzvah, todos os judeus recebem uma alma adicional,
cujo único desejo é fazer o bem, apegar-se a Deus e cumprir Seus mandamentos.
Esta nova alma é diferente da alma de uma criança, cujos desejos são quase
inteiramente materiais.
A cerimônia do
Bar-Mitzvah
As leis que regulam
o Bar-Mitzvah foram passadas por Deus a Moisés e, com o decorrer do tempo,
várias tradições surgiram no seio das diferentes comunidades espalhadas pelo
mundo. O Bar-Mitzvah
costuma ser comemorado na sinagoga, na segunda ou quinta-feira mais próxima da
data do aniversário do jovem segundo o calendário judaico. Diante da
comunidade, durante as preces da manhã, o menino lê o primeiro segmento da
Perashá - a Porção Semanal da Torá - que será lida, por inteiro, no Shabat
seguinte.
A leitura da Torá é
elemento fundamental da cerimônia, já que receber uma aliá - ou seja, ser
chamado a ler a Torá - é uma dádiva espiritual que só pode ser dada a um judeu
que já tenha completado 13 anos de idade.
Na tradição
sefaradita, a cerimônia do Bar-Mitzvah tem início com a colocação de um novo
talit - O xale ritual sagrado que envolve os homens durante as rezas - sobre o
qual o jovem recita bênçãos que são seguidas pelo shecheheianu - a berachá
tradicional de agradecimento a Deus por nos ter dado o privilégio de estar
vivenciando tal data.
A partir do
Bar-Mitzvah, os sefaraditas sempre usam o talit durante as rezas da manhã. Em
algumas comunidades asquenazitas, os homens judeus passam a rezar com o talit
apenas após se casarem.
A cerimônia do
Bar-Mitzvah continua com a colocação dos Tefilin - os filactérios de couro. O
mandamento do Tefilin, um dos mais importantes da Torá, constitui um elemento
fundamental do Bar-Mitzvah, pois, com raras exceções, os Tefilin só são usados
depois que o jovem completa 13 anos de idade. A partir do Bar-Mitzvah serão
colocados todos os dias, à exceção de Shabat e dos Chaguim, os dias das Festas.
Os Tefilin ligam os judeus a Deus, além de proteger e abençoar aquele que os
portam. São o próprio símbolo do Bar-Mitzvah e de tudo que essa data religiosa
implica. Os Tefilin são colocados no braço, junto ao coração, e sobre a cabeça,
simbolizando a razão. A tira de couro que amarra o braço é passada sete vezes
em torno deste. Na cerimônia do Bar-Mitzvah, costuma-se dar aos avós o cavod,
isto é, a honra, de darem as primeiras voltas em torno do braço, seguidas de
outros familiares ou convidados que mereçam tal honraria.
Entre os sefaradim
as mulheres costumam jogar confeitos de amêndoas sobre o jovem Bar-Mitzvah
quando ele acaba de ler a Torá, pela primeira vez, para lhe trazer boa sorte.
Ao terminar a leitura, o jovem é saudado pelos presentes com os votos de
Besiman Tov, como um bom augúrio, significando o desejo de que aquela aliá seja
um presságio para futuras bênçãos e alegrias em sua vida. Algumas comunidades
também abençoam o jovem com as seguintes palavras: "Que tenhamos a graça
de o ver sob a chupá, o pálio nupcial, com seu pai e sua mãe e com todos seus
familiares, em boa saúde".
Após a leitura da
Torá, existe o hábito do jovem pronunciar um discurso para mostrar a sua
sensibilidade em entender os comentários dos Textos sagrados, afirmar seu
compromisso com o judaísmo e assumir seu lugar na comunidade.
A cerimônia do
Bar-Mitzvah continua no Shabat. Em algumas comunidades, o jovem conduz as
orações de Shabat na sinagoga. O essencial, porém, é que ele seja novamente
chamado para ler a Torá e, logo após, a Haftará, que é um trecho tirado dos
Livros dos Profetas, relacionado ao assunto da Perashá da semana.
É importante
ressaltar que, aos 13 anos de idade, um jovem se torna Bar-Mitzvah ainda que
não seja celebrada a cerimônia. A razão para tal é que todo judeu, nessa idade,
se torna "filho da Mitzvah" - isto é, responsabiliza-se pelo
cumprimento da Lei Judaica. A cerimônia tem grande valor espiritual, mas ela
por si só não define a maioridade religiosa. Muitos judeus que não tiveram a
oportunidade de celebrar o Bar-Mitzvah aos 13 anos de idade - ou, no caso das
meninas, seu Bat-Mitzvah, aos 12 - fizeram-no mais tarde, em fase posterior de
sua vida. Como um exemplo de que o vínculo de um judeu com Deus e Seus
Mandamentos é eterno, o famoso ator judeu Kirk Douglas celebrou seu Bar-Mitzvah
pela segunda vez, aos 83 anos de idade, como uma demonstração de seu retorno à
prática do judaísmo.
A importância do
Bar-Mitzvah
A transição mais
importante na vida de um judeu, além do casamento, é seu Bar-Mitzvah. O dia do
Bar-Mitzvah, data hebraica do 13º aniversário do jovem, é o momento no qual ele
se torna um emissário de Deus, comprometido com o cumprimento dos Mandamentos
Divinos, as mitzvot (Mishná - Avot, 5.21). A palavra Mitzvah possui mais um
significado, além do termo mandamento - "conexão". Tal sentido
implica que no dia de seu Bar-Mitzvah é estabelecida uma verdadeira conexão
entre o jovem judeu e o Todo-Poderoso.
O número 13 é
numericamente equivalente à palavra "echad", cuja tradução é
"um". Esta unidade é demonstrada pelo fato de que após o seu
Bar-Mitzvah o menino já pode ser contado como um membro do minián, o quorum
mínimo de dez homens, necessário para a realização das orações em grupo.
Como
vimos, o dia do Bar-Mitzvah marca uma mudança na maneira de aprender e colocar em prática
os mandamentos. Como recompensa divina por seu cumprimento, o jovem é abençoado
com novas forças físicas e espirituais. Nessa data, ele recebe um novo mazal,
uma nova força espiritual que, quando corretamente canalizada, lhe trará
grandes bênçãos e lhe permitirá realizar grandes atos.
Alguns jovens
"acordam" diferentes na manhã de seu Bar-Mitzvah. Olham-se no
espelho, à procura de algum sinal novo de barba em seu rosto imberbe ou alguma
outra mudança em sua fisiologia. É possível que leve mais alguns meses para que
haja alguma mudança visível. O que ocorre é mais sutil, é um outro tipo de
maturidade. Pois, segundo nossos textos místicos, é a partir do Bar-Mitzvah que
um jovem passa a se deparar com um lado mais profundo de sua personalidade, até
então desconhecido.
Após o Bar e
Bat-Mitzvah, os jovens entram na adolescência, a época dos conflitos. Mas,
também, é quando, os jovens vão tendo percepção de outras realidades - a voz da
alma começa a se manifestar enquanto desponta diante deles o mundo espiritual.
É quando se inicia
a busca por um significado maior na vida e por uma conexão entre os seus
diversos aspectos. É quando o jovem se defronta com a sua própria personalidade
em uma dimensão sobre a qual jamais pensara. É justamente essa percepção que
faz do jovem um ser "adulto" responsável e capaz de conviver
harmoniosamente em um mundo complexo e conflitante, cumprindo sua missão de
acordo com o pacto assumido por nosso povo com Deus.
O texto foi
produzido com base nas fontes abaixo:
Bibliografia
The Encyclopedia of Judaism, Geoffrey Wigoder
Entering Adulthood - the Bar and Bat-Mitzvah, Aron
Moss
The Significance of a Bar-Mitzvah, Rabbi Nissan
Dovid Dubov
A Treasury of Sephardic Laws and Customs, Rabbi
Herbert C. Dobrinsky
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