É com grande prazer que expressarei
nestas poucas palavras o quanto sou grato a Deus por Ele ter me alcançado, e
desejo que os amados irmãos em Cristo, compartilhem desta mesma alegria ao ler
este testemunho. Chamo-me António Namóne, nasci em
Guiné-Bissau (África Ocidental) onde vivo até hoje. Tinha 13 anos de idade quando o Senhor me chamou
para segui-Lo, isso foi no final do ano de 1995 e princípio de ano
de 1996, em Bafafá, segunda cidade mais importante da Guiné-Bissau. Sem prolongar muito em minhas palavras,
quero descrever o que realmente antecedeu ao meu chamado ao cristianismo.
Tudo começou quando numa tarde, fui
passear com o meu irmão mais velho, nas ruas da cidade de Bafafá, em
Guiné-Bissau. Encontramos um grupo de missionários da Missão Kairós, que
estavam ali evangelizando e tinha muitas pessoas ao redor deles, fui
chegando perto e vi que eles estavam falando de Jesus e distribuindo folhetos
escritos em Crioulo (primeira língua mais falada na
Guiné-Bissau) cujo titulo era: BIM! Que significa “Vem” em Português.
Eu me aproximei e pedi um daqueles
folhetos que eles estavam distribuindo. Um deles, chamado Pr. Roberto Alexandre
me perguntou: “Você sabe ler”? E, eu respondi que sim! Ele me pediu para que eu
lesse o título daquele folheto e percebi que estava escrito na minha língua
(Crioulo), então eu sorri! Aquele homem
olhou para mim e falou: “Filho, JESUS te ama! Ele quer ser o seu
amigo”! E me perguntou se eu O aceitava. Eu
pensava que os evangélicos eram pessoas que trabalhavam para o
Governo ou para o Estado, (por causa do nome protestantes), eu
achava que a origem desta palavra vinha da palavra presidente! (ou seja,
presidente da república), então recusei o convite dele e falei que só queria
aquele livro. Ele me falou: “Já esta na tua
mão, é teu”.
Uau! Foi muito bom ouvir aquilo! Voltei
correndo com muita emoção e falei para o meu irmão: “São coisas do Estado,
ganhei um livro escrito em nossa língua! Ele
me falou: “Você esta mentindo, não tem nada escrito em nossa língua”. Mostrei-
o para ele e logo parou de me ofender, mas na verdade não era um livro, era
apenas um folheto de quatro páginas, que falava do nascimento de Jesus Cristo
e, foi a primeira vez que vi aquele assunto, escrito na nossa língua.
Fui para casa, mas com um pouco de
medo, porque toda minha família é animista, (é a teoria criada por E. B.
Taylor, em 1871, segundo a qual os povos naturais atribuem a todos os seres da
natureza uma ou várias almas, ou seja, todo ser da natureza é um deus). O meu pai era um coronel do exército, e também
fazia todas as práticas do animismo. Pensei que ele não ia gostar daquele
folheto, mas eu não tinha como escondê-lo, porque o meu irmão
sabia que eu o tinha recebido. Quando cheguei a casa
fui falar com o meu pai e lhe mostrei o folheto. Ele me falou calmamente: “Filho isso não importa, você é quem
sabe, se você quiser seguir a Cristo não tem problema, pode seguir”.
Fui alegre para o meu quarto, passava
horas e horas para decorar aquela história, a fim de, poder repassar depois
para os meus colegas. Todos sabem que os adolescentes gostam
de ouvir histórias. As crianças nas aldeias (em especial as africanas) têm o
costume de se juntarem em grupos para ouvir histórias. Numa noite
estávamos sentados na varanda de nossa casa para contar histórias, e eu pedi
para ser o primeiro. Fui logo contando a história que tinha
lido e decorado do folheto. Narrei a história com detalhes desde o nascimento
de Jesus, até a fuga de José para Egito, e todos os que estavam presentes
gostaram e sempre que nos reuníamos pediam para que eu repetisse a mesma
história.
Um dia chegou um homem muito estudioso
da Palavra, ele veio morar em nosso bairro, o nome dele é António Albino Man.
Ele era membro da Igreja Nova Apostólica, e seu filho esteve numa dessas noites
em que eu estava contando a história do folheto, pois era só essa que eu sabia. No final da história ele me disse que o pai dele
também tinha um livro do nascimento de Jesus. Então, muito curioso perguntei se
ele podia me mostrar, ele falou que podia, ai no dia seguinte fui para casa
dele a fim de ver o referido livro. Ele pegou o Novo Testamento
na estante do pai e fomos para quarto dele, abri o livro e vi que era a mesma
história que eu contava e que tinham outras que eu não conhecia. Sai
dali e fui procurar a casa do pastor Roberto Alexandre. Quando ele me viu, não
me reconheceu. Eu falei para ele: “Foi você que me deu um livro do nascimento
de Jesus”. Nesse momento ele se lembrou de mim, então continuei:
“Agora eu quero um livro com a história
completa”. Então ele pegou um Novo Testamento em português e me deu. E, voltou
a falar de Jesus para mim e me perguntou: “Você
entendeu”? Respondi: “Sim, mas quero o livro
escrito em Crioulo”!
Ele falou que no momento não tinha um
para me dar, (na verdade era muito difícil o Novo Testamento em Crioulo e não
havia Bíblia completa). Levei comigo aquele Novo Testamento em Português que
ele me deu. Sai insatisfeito, pois, eu não entendia bem o Português, então
resolvi pedir ao pai do meu amigo que me deixasse passar a ler o Novo
Testamento em Crioulo, em sua casa. Como ele só tinha um e não poderia me doar,
concordou. Eu estudava de manhã e ia sempre à
tarde para ler o abençoado Novo Testamento, levei meses fazendo isso. Certo
dia, eles se mudaram para um bairro muito longe do nosso, então passei a
frequentar a casa deles só aos sábados, porém fui só algumas vezes. Um dia,
tive um mau pensamento: “Eu vou roubar este Novo Testamento. Vou ter que parar
de ir a casa dele, está ficando muito cansativo”. Noutro
dia quando fui à casa deles para ler, disse ao filho dele:
“Você sabe que somos amigos, não é”? Ele respondeu: “Sim, eu sei”. Em seguida falei mais uma coisa para reafirmar a
nossa amizade: “Eu acho que você deve perceber isso, certo”? Ele me perguntou: “Isso o que, certo o que”? "Que nós somos amigos”. “Ah sim”!
Então tomei coragem e falei: “Eu quero que você roube aquele Novo Testamento, do
seu pai, para mim”. Ele me falou: “Isso é muito difícil, se o meu pai descobrir ele
vai me bater”. Tentei e tentei, mas não deu certo.
Numa segunda tentativa falei: “Olhe se você me der aquele Novo Testamento do seu
pai eu vou lhe dar um dinheiro! E não vou falar nada do assunto para ninguém e,
se o seu pai vier lhe perguntar, simplesmente diga que você não sabe de nada”. Ah, ai ele aceitou a proposta. Marcamos um encontro,
ele foi com o Novo Testamento e eu fui com dinheiro.
Levei o Livro comigo muito feliz. Parei
de ir a casa dele e o lia sempre em minha casa. Encontrei
vários assuntos que me deixaram com dúvidas, e fui ao pastor Roberto Alexandre
para que ele me explicasse tudo. Ele me mostrava figuras coloridas dos
personagens das histórias, e cada dia mais e mais eu ia entendendo a Palavra de
Deus, até que resolvi aceitar aquele convite que um dia eu recusei, por medo e
sem mesmo saber o que era ser um evangélico. Fui
falar com o meu pai que eu queria me converter ao Senhor, ele me disse que eu
podia e, no dia seguinte fui para casa do Pr. Roberto Alexandre. No culto de
oração eu entreguei a minha vida para o SENHOR!
Claro que não posso deixar de dizer que
tempos depois, já salvo em Jesus, fui até o pai do meu amigo e lhe contei tudo
sobre o Novo Testamento e pedi que me perdoasse. Fico feliz em dizer que ele me
perdoou. Graças a Deus estou livre do animismo e
salvo em Cristo Jesus. Hoje sou missionário na Guiné-Bissau e recentemente fui
ordenado ao Ministério de Pastor.
António Namóne
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