quinta-feira, 25 de maio de 2017

Sobre Satanás - trecho do livro: "Conhecendo as doutrinas da Bíblia" de Myer Pearlman


Alguns afirmam que não existe tal ser, o diabo; mas depois de observar-se o mal que existe no mundo, é lógico que se pergunte: "Quem continua a fazer a obra de Satanás durante a sua ausência, se é que ele não existe? As escrituras nos revelam:

1. Sua origem - Is. 14:12-15; Ez. 28:12-19.
A concepção popular de um diabo com chifres, pés de cabra, e de aparência horrível teve sua origem na mitologia pagã e não na Bíblia. De acordo com as Escrituras, Satanás era originalmente Lúcifer (literalmente, "o que leva luz"), o mais glorioso dos anjos. Mas ele, orgulhosamente, aspirou a ser "como o Altíssimo" e caiu na "condenação do diabo" (1 Tm. 3:6).

Notemos os antecedentes históricos nos capítulos 14 de Isaías e 28 de Ezequiel. Muitos têm perguntado: "Por que os reis da Babilônia e de Tiro são mencionados primeiramente, antes de relatar-se a queda de Satanás?" A resposta é: o profeta descreveu a queda de Satanás tendo em vista um propósito prático. Alguns dos reis de Babilônia e Tiro reivindicaram adoração como seres divinos, o que é uma blasfêmia (Vide Dn. 3:1-12; Ap. 13:15; Ez. 28:2; At. 12:20-23), e faziam de seus súditos o jogo de sua ambição cruel. Para poder admoestar os tais, os inspirados profetas de Deus afastaram o véu do obscuro passado e descreveram a queda do anjo rebelde, que disse: "Eu serei igual a Deus." Esta é a lição prática: Se Deus castigou o blasfemo orgulho desse anjo de tão alta categoria, como deixar de julgar a qualquer rei que se atreva a usurpar o seu lugar? Notemos como Satanás procurou contagiar nossos primeiros pais com o seu orgulho. (Gn 3:5; Is. 14:14).

Notemos como o frustrado orgulho e ambição ainda o consomem, a ponto de desejar ser adorado (Mt. 4:9) como "deus deste mundo" (2 Co. 4:4), uma ambição que temporariamente será satisfeita quando ele encarnar o anticristo. (Ap. 13:4.). Como castigo por sua maldade, Satanás foi lançado fora do céu, juntamente com um grupo de anjos que ele havia alistado em sua rebelião. (Mt. 25:41; Ap. 12:7; Ef. 2:2; Mt. 12:24.) Ele procurou ganhar Eva como sua aliada; porém, Deus frustrou o plano e disse: "Porei inimizade entre ti e a mulher" (Gên. 3:15).

2. Seu caráter
As qualificações do caráter de Satanás são indicadas pelos seguintes títulos e nomes pelos quais é conhecido: (a) Satanás literalmente significa "adversário" e descreve seus intentos maliciosos e persistentes de obstruir os propósitos de Deus. Essa oposição manifestou-se especialmente nas suas tentativas de impedir o plano de Deus ao procurar destruir a linhagem escolhida, da qual viria o Messias — atividade predita em Gn. 3:15. E desde o princípio ele tem persistido nesta luta. Caim, o primeiro filho de Eva, "era do maligno e matou a seu irmão" (1 Jo. 3:12). Deus deu a Eva outro filho, Sete, que veio a ser a semente escolhida da qual procederia o Libertador do mundo. Mas o veneno da serpente ainda estava surtindo efeito na raça humana, e, no transcurso do tempo a linhagem de Sete cedeu às más influências e se deteriorou. O resultado foi a impiedade universal da qual resultou o Dilúvio. O plano de Deus, não obstante, não foi frustrado porque havia pelo menos uma pessoa justa, Noé, cuja família se tornou origem de uma nova raça. Dessa maneira fracassou o propósito de Satanás de destruir a raça humana e impedir o plano de Deus. De Sem, filho de Noé, descendeu Abraão, o progenitor de um povo escolhido, por meio do qual Deus salvaria o mundo. Naturalmente os esforços do inimigo se dirigiam contra esta família em particular. 

Certo escritor traça a astuta oposição de Satanás nos seguintes incidentes: A oposição de Ismael a Isaque, a intenção de Esaú de matar Jacó; e a opressão de Faraó aos israelitas. Satanás é descrito como procurando destruir a igreja, de duas maneiras: interiormente, pela introdução de falsos ensinos (1 Tm. 4:1; Mt. 13:38,39), e exteriormente pela perseguição (Apc. 2:10). Foi o que se verificou com Israel, a igreja de Deus do Antigo Testamento. A adoração do bezerro de ouro no princípio de sua vida nacional é um caso típico que constantemente ocorreu através de toda a sua história; e no livro de Ester temos o exemplo de um esforço feito para destruir o povo escolhido. Mas o povo escolhido de Deus tem sobrevivido tanto à corrupção da idolatria, quanto à fúria do perseguidor, e isso por causa da graça divina que sempre tem preservado um restante fiel. Quando se cumpriu o tempo, o Redentor veio ao mundo, e o malvado Herodes planejou matá-lo; porém, mais uma vez Deus prevaleceu e o plano de Satanás fracassou. No deserto, Satanás procurou opor-se ao Ungido de Deus e desviá-lo de sua missão salvadora, porém foi derrotado; e seu Conquistador "andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo". Este conflito secular chegará ao seu clímax quando Satanás se encarnar no anticristo e for destruído na ocasião da vinda de Cristo.

(b) Diabo significa literalmente "caluniador". Satanás é chamado assim porque calunia tanto a Deus (Gn. 3:2,4,5) como ao homem (Ap. 12:10; Jo 1:9; Zc. 3:1, 2; Lc. 22:31).

(c) Destruidor é o sentido da palavra "Apollyon" (grego), "Abaddon" (hebraico) (Apc. 9:11). Cheio de ódio contra o Criador e suas obras, o diabo desejava estabelecer-se a si mesmo como o deus da destruição.

(d) Serpente. "Essa antiga serpente, chamada o diabo" (Apc. 12:9) nos faz lembrar aquele que, na antiguidade, usou uma serpente como seu agente para ocasionar a queda do homem. 

(e) Tentador. (Mat. 4:3.) "Tentar" significa literalmente provar ou testar, e o termo é usado também com relação aos tratos de Deus (Gn. 22:1). Mas, enquanto Deus põe à prova os homens para seu próprio bem — para purificar e desenvolver o seu caráter — Satanás tenta-os com o propósito malicioso de destruí-los.

(f) Príncipe e deus deste mundo. (Jo 12:31; 2 Co. 4:4.) Esses títulos sugerem sua influência sobre a sociedade organizada fora ou à parte da influência da vontade de Deus. "Todo o mundo está no maligno" (no poder do maligno) (1 Jo 5:19) e está influenciado por ele. (1 Jo 2:16.) As Escrituras descrevem o mundo como sendo qual vasto conjunto de atividades humanas, cuja trilogia se resume nestas palavras: fama, prazer e bens. A esses três objetivos tudo está subordinado. Hábeis argumentos em defesa dos mesmos criam a ilusão de serem realmente dignos. Esses objetivos gozam ainda da vantagem de vastíssimo aparato literário, comercial e governamental, o qual constantemente reclama dos cidadãos do mundo o culto a esses objetivos, que, na mente, se associam aos mais elevados valores. Os aplausos do povo se dedicam àqueles que os conseguem. O juízo das coisas é pelo aspecto e o êxito aparentes, fundamentado sobre falsos postulados de honra e mediante falsas idéias de prazer, de valores e da dignidade da riqueza. Ademais, faz-se veemente apelo aos instintos inferiores da nossa natureza, apelo que se reveste da linguagem pretensamente (?)

3. Suas atividades
(a) A natureza das atividades. Satanás perturba a obra de Deus (1 Ts. 2:18); opõe-se ao Evangelho (Mt. 13:19; 2 Cor. 4:4); domina, cega, engana e laça os ímpios (Lc. 22:3; 2 Cor. 4:4; Ap.20:7, 8; 1 Tm. 3:7). Ele aflige (Jo 1:12) e tenta (1 Tes. 3:5) os santos de Deus. Ele é descrito como presunçoso (Mat. 4:4, 5); orgulhoso (1 Tim. 3:6); poderoso (Ef. 2:2); maligno (Jo 2:4); astuto (Gn. 3:1 e 2 Cor. 11:3); enganador (Ef. 6:11); feroz e cruel (1 Pd. 5:8).

(b) A esfera das atividades. O diabo não limita as suas operações aos ímpios e depravados. Muitas vezes age nos círculos mais elevados como "um anjo de luz" (2 Cr. 11:14). Deveras, até assiste às reuniões religiosas, o que é indicado pela sua presença no ajuntamento dos anjos (Jo capítulo 1), e pelo uso dos termos: "doutrinas de demônios" (1 Tm. 4:1) e "a sinagoga de Satanás" (Ap. 2:9). Frequentemente seus agentes se fazem passar como "ministros de justiça" (2 Cr. 11:15). A razão que o leva a frequentar as reuniões religiosas é o seu malicioso intento de destruir a igreja, porque ele sabe que uma vez perdendo o sal da terra o seu sabor, o homem torna-se vitima em suas mãos inescrupulosas.

(c) O motivo das atividades. Por que está Satanás tão interessado em nossa ruína? Responde José Hussiein: "Ele aborrece a imagem de Deus em nós. Odeia até mesmo a natureza humana que possuímos, com a qual se revestiu o Filho de Deus. Odeia a glória externa de Deus, para a promoção da qual temos sido criados e pela qual alcançaremos a nossa própria felicidade eterna. Ele odeia a própria felicidade, para a qual estamos destinados, porque ele mesmo a perdeu para sempre. Ele tem ódio de nós por mil razões e de nós tem inveja." Assim disse um antigo escriba judeu: "Pela inveja do diabo veio a morte ao mundo: e os que o seguem estão a seu lado."

(d) As restrições das atividades. Ao mesmo tempo em que reconhecemos que Satanás é forte, devemos ter cuidado de não exagerar o seu poder. Para aqueles que creem em Cristo, ele já é um inimigo derrotado (Jo 12:31), e é forte somente para aqueles que cedem à tentação. Apesar de sua fúria rugidora ele é um covarde, pois Tiago disse: "Resisti ao diabo e ele fugirá de vós" (Tg. 4:7). Ele tem poder, porém limitado. não pode tentar (Mt. 4:1), afligir (Jo 1:16), matar (Jo 2:6; Heb. 2:14), nem tocar no crente sem a permissão de Deus.

4. Seu destino
Desde o princípio Deus predisse e decretou a derrota daquele poder que havia causado a queda do homem (Gn. 3:15), e o castigo da serpente até o pó da terra foi um vislumbre profético da degradação e derrota final dessa "velha serpente, o diabo". A carreira de Satanás está em descensão sempre. No princípio foi expulso do céu; durante a Tribulação será lançado da esfera celeste à terra (Ap. 12:9); durante o Milênio será aprisionado no abismo, e depois de mil anos, será lançado ao lago de fogo (Ap. 20:10). Dessa maneira a Palavra de Deus nos assegura a derrota final do mal.